...isto já me está a meter nojo.
Pois bem, eu só tomei conhecimento da carta para o Presidente da República feita pelo rapazito enfermeiro que decidiu emigrar, através do facebook. Li a carta, achei: ok, o rapaz está mesmo revoltado e esta foi a catarse dele. Tudo bem.
Depois pessoal em Portugal aconselhou-me a ver a entrevista televisiva que ele deu. Vi... Em primeiro lugar, aquilo é uma procura de mediatismo tremenda, a forma como ele falou, fez de nós uns verdadeiros coitadinhos e nós de coitadinhos temos muito pouco pois estamos a receber o dobro e algumas vezes o triplo que iríamos receber em Portugal. Coitados são aqueles que ficam e têm que se sujeitar a trabalhos precários e receber uma ninharia, tudo isto porque há todo um empatamento político no nosso estatuto como licenciados e também porque a nossa Ordem só existe para receber quotas.
Em segundo lugar, os telejornais portugueses foram agora bombardeados com a súbita realização de que existe uma "fuga" de enfermeiros de Portugal. A sério? A emigração de enfermeiros não começou só agora, não começou com esse rapaz e nem sequer começou comigo! Tenho muitos colegas que estão cá há anos, eles vieram aos magotes há anos e só agora é que Portugal se apercebeu que existe emigração em Enfermagem? Não, as pessoas não são tão tapadas assim, o que demonstra que este "bombardeamento" é meramente político.
Após isto tudo, esta semana encontro na nossa copa do serviço um jornal inglês com uma
notícia sobre precisamente esse moço, mencionando a carta, o descontentamento do moço em sair do país e falando na quantidade de enfermeiros estrangeiros o NHS tem (que por curiosidade são ao todo, 40%). Tive que tirar uma fotocópia pois não acreditava nos meus olhos... Acho que passa uma imagem péssima.
Cheguei mesmo a falar com os meus colegas aqui, todos concordamos que estão à procura de sensacionalismo numa coisa que já acontece há muito tempo e que não somos definitivamente coitadinhos nenhuns. Sim, a parte financeira não é tudo mas saindo do país tens oportunidade de ter uma carreira (coisa que não existe em Portugal nem que tenhas 20 anos de experiência ou uma especialidade) e sim, há saudades mas gerem-se. Se eu, que sou do norte do país se fosse trabalhar para o Algarve, podem ter a certeza que com o que ia ganhar não me ia dar para ir a casa nem uma vez por mês, enquanto que eu estando aqui, estou a 2 horas de Portugal, consigo ir a casa (se eu quiser) uma vez por mês e isto é apenas um exemplo.
Concluindo, em vez de pedirem satisfações ao Primeiro Ministro ou ao Presidente da República porque é que não pedem satisfações à Ordem dos Enfermeiros que está muito comodamente a receber quotas, quer se esteja a trabalhar ou não, e não se mexe para preservar (quiçá elevar mas não se pode pedir tudo) a nossa classe?