26 de março de 2012

Uma cidade debaixo do hospital



A primeira coisa que nos disseram, mal chegámos ao serviço, foi que não necessitávamos das tais fardas maravilhosas pois iríamos usar as "scrubs" que são bem mais confortáveis e não temos que levar para casa. Sim, porque aqui têm o hábito de levar as fardas para casa para lavar, ao contrário de que em Portugal, é o hospital que lava as fardas. Tal como já vi pessoal fardado no autocarro, nos carros ou simplesmente a chegar fardado ao hospital, o que me causou assim uma impressão bastante grande porque só pensava nas aulas sobre as infecções nosocomiais. Não só isso, o facto de lavarem em casa tem muito que se lhe diga porque quem tem bebés ou crianças pequenas ou até mesmo idosos, é um risco! Mas nenhum sítio é perfeito porque se fosse toda a gente ia para lá, LoL. Passando as imperfeições à frente…

Quando entrei no serviço fiquei de boca aberta! Aliás até mesmo quando entrei no hospital, acho-o muito bonito, como se fosse possível achar um hospital bonito mas este acho. Montes de janelas, boa iluminação, uma decoração de nada sombria. Em suma, um bom sítio para se trabalhar. O serviço em si, é simples porque também não pode ser sítio de muitos aparatos, tem é muitos corredores, muitas salas, muitas arrecadações e cheira-me que nos inícios se não andar acompanhada vou-me perder, LoL. Daí eu dizer que parece mesmo uma cidade debaixo do hospital!

A manager, super bem-disposta e simpática, apresentou-nos o serviço, a algumas pessoas, o nosso chefe (pessoa importante para se conhecer) e sem mais demoras, atribuiu-nos a alguns enfermeiros. Alguns ficaram com enfermeiros portugueses (sim porque no serviço onde estou existe uma equipa portuguesa considerável, volta e meia, a gente encontrava alguém a dizer “olá” em vez de “hello”) e outros ficaram com enfermeiros ingleses, como foi o meu caso. Eu fiquei com uma enfermeira especialista, que me esteve a explicar mais ou menos a dinâmica do serviço, os passos a dar, os registos a fazer, a burocracia, etc. Claro que a meio da manhã já estava com a cabeça em água tal era a montanha de informação, no entanto, tentei ao máximo mostrar-me disponível em ouvir… Admito que fiquei um bocado assustada com o que ainda me falta saber e só espero estar à altura do serviço.

Chegou perto do intervalo da manhã e ela fez-me a pergunta de há quanto tempo eu estava no Reino Unido. Achei estranha a pergunta mas disse há uma semana, ao qual ela me diz surpreendida: “Uma semana? Então há quanto tempo tens inglês? É que falas muito bem inglês, mesmo!”. Ai, que riqueza. O meu ego foi lá para cima! Estava mesmo preocupada que as pessoas não me percebessem por causa do sotaque ou porque ainda falo um pouco a gaguejar ou ainda me esqueço de certas palavras, ou seja, ainda não me sai naturalmente. Pelo menos é o que eu acho mas após ela me ter dito aquilo e me ter dito que apesar de obviamente eu ter um pouco de sotaque, comunicava muito bem, então senti-me muito mais confiante para meter-me com os doentes que apareciam.

Houve um senhor que se destacou porque fui ter com ele perguntando se estava tudo bem, se precisava de algo e ele pergunta-me ainda meio a dormir de onde é que eu era, então respondo-lhe que sou do belo do Portugal, ao qual ele diz: “Portugal?! Ai mas que ricos vinhos… Você tem vinho? É que eu pago-lhe se me trouxer vinho de lá!” LoL. A esta pergunta só podia haver uma resposta: “Você quer tinto, branco, porto ou moscatel?” Quando lhe fiz esta pergunta na brincadeira, os olhos dele brilharam e parecia que estava no céu, LoL. Pelo que me apercebi na conversa com os doentes, é que tanto a nossa bebida como a nossa comida são muito apreciadas, pena é a nossa exportação não ser a condizer. E lembram-se de eu dizer que no meu serviço tinha uma equipa considerável de portugueses? Não é que quando eu fui levar este mesmo doente a um serviço diferente, a enfermeira que o veio receber era portuguesa? Quase que se podia falar só português neste hospital, LoL.

Claro que estou a exagerar um pouco mas estando a falar com colegas enfermeiros que já estão a trabalhar há um ano no hospital, que no hospital inteiro devem haver pelo menos 100 portugueses porque volta e meia, reúnem-se, fazem jantaradas, etc. No entanto, uma das recomendações feitas pela manager foi mesmo não falarmos português enquanto estivermos de serviço, que já tinha havido uma reclamação (feita por colegas) porque alguns enfermeiros na sala de convívio falaram na sua língua materna (não necessariamente portugueses) e os restantes colegas que não percebiam consideraram uma falta de respeito. Não discordo mas que é esquisito falar inglês com alguém que sabemos que é português, é sim senhora! Até mesmo entre nós, o grupo novo, tínhamos que falar inglês e era muito estranho, LoL.

Fora isso, ainda não sei quem vai ser o meu “mentor” para a integração ao serviço e muito menos em que departamento vou ficar, só espero que me calhe assim uma coisa fofinha. Ainda é um sentimento de muita incerteza, não sei se por ser o primeiro trabalho ou se por ser num país com leis diferentes ou ambos, se bem que estou mais inclinada para a terceira opção.

Até agora pareceu tudo muito simpático, vamos a ver com o tempo…


Nota: eu avisei que iria ser um testamento, LoL.

15 comentários:

  1. Parece-me que para já a "aventura" está a correr bem!

    Boa sorte:)

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  2. É certo que falarmos uma língua que os outros não percebem é falta de educação, mas querer saber de que conversam os demais também é...
    E já sabes: se quiseres subornar alguém do hospital e que seja bife, levas umas garrafinhas daqui e está feito! Nada mais fácil xD
    Bjs*

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  3. É certo que falarmos uma língua que os outros não percebem é falta de educação, mas querer saber de que conversam os demais também é...
    E já sabes: se quiseres subornar alguém do hospital e que seja bife, levas umas garrafinhas daqui e está feito! Nada mais fácil xD
    Bjs*

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  4. Conhecimentos de vinhos no hospital XD. Os primeiros tempos devem sempre ser os mais complicados. mas acredito que se sairam bem. já tiveste que afastar as chefas do teu juju? XD

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  5. ainda bem que estás a gostar e que tudo corre pelo melhor!

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  6. Querida Corina, estive a colocar-me a par das tuas ultimas novidades por terras de sua majestade! Parece que as coisas te estão a correr bem e que afinal o hospital tem uma imensa comunidade portuguesa, a laborar!
    desejo-te tudo de bom e que continues sempre bem disposta como é a tua característica.
    Beijinhos. :)

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  7. ...espero que corra tudo pelo melhor...=) bj*

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  8. Greetings, de uma enfermeira que também embarcou nesta aventura, em Janeiro... :) Qual é a zona onde estás? Eu estou em High Wycombe, pelo menos por aqui não me parecem haver muitos portugueses, mas o meu namorado está em Stoke Mandeville e aí sim, são aos montes!

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  9. Incrível estas diferenças todas, infelizmente també já tive que visitar um hospital em Barcelona e não tinha nada a ver com os de cá.

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  10. Tou a ver que estas msm a gostar =D
    fico feliz.
    Aproveita bastante e diverte-te =D
    bjs*

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  11. Oh que giro ainda bem que está tudo a correr bem... Só acho um bocado parvo não vos ser permitido falar português :/ Devem pensar que estão a falar mal deles xD
    Diverte-te e continua com os testamentos, gosto de os ler :p

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  12. Nada do que relatas me surpreende.
    Não sou enfermeira nem conheço ninguém a trabalhar no ramo da saúde mas o que descreves também o vivi, quando estive no UK, em duas ocasiões distintas.

    O elogio ao inglês? Também o recebi. Nunca dei grande credibilidade. Eles nos entendem bem e isso é bom, acham apenas que falamos mais "americano" que british. Mas isso se deve porque eles não têm a aprendizagem que nós temos para línguas estrangeiras. Então surpreendem-se sempre.

    A dimensão dos corredores... lool
    O facto de quase poderes falar apenas português... É natural, em toda a parte estão a querer reduzir os salários e contratam mão de obra mais barata. A portuguesa, pelo que percebi, é muito apreciada. É considerada boa para trabalhar e integrasse bem.

    E todos, todos, adoram a nossa bebida e comida (quem a conhece). Uma vez experimentando portugal, jamais esquecem os prazeres gastronómicos e a boémia do Bairro Alto :))

    Comigo ainda teve um bónus:quando percebiam que eu era portuguesa, exclamavam: CRISTIANO RONALDO!! VERY GOOD!

    :)

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  13. PS: Nota muito negativa para essa história das batas. Mesmo!
    vai contra tudo o que até um LEIGO sabe sobre as normas hospitalares de esterilização e contágio.

    *integra-se**

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Faz deste reino, o teu reino... Não te acanhes, está à vontade! Cá estarei para te ler.