10 de outubro de 2020

A minha alma precisa de férias



Eu estive a pensar se ia escrever algo sobre o assunto mas a verdade é que desde sempre o acto de escrever é quase como uma catarse para mim, por isso aqui vai disto…

Há uns tempos não me andava a sentir nada bem, coincidiu quando li menos, a minha cabeça simplesmente não conseguia relaxar o suficiente para eu aproveitar um hobbie que eu adoro que é ler. Na primeira semana pensei que era cansaço, na segunda semana pensei que era ressaca literária, na terceira semana pensei que era falta de oportunidade e na quarta semana apercebi-me que estava continuamente a tentar arranjar desculpas.
Não estou a dizer que estava a arranjar desculpas para não ler, aliás como já disse é preciso respeitar, se simplesmente não estamos com cabeça, não vale a pena obrigar. O que estou a dizer é que estava a arranjar desculpas para um facto que eu lentamente fui percebendo: psicologicamente não estava bem.

Com as pressões do trabalho, situações extremas profissionais devido a uma pandemia mundial, mudanças na nossa rotina devido à conjectura e a gerência das saudades das pessoas que estão longe… o meu psicológico não estava no seu melhor estado.

Mais e mais eu pensava que se calhar eu devia procurar ajuda e quando uma psicóloga em quem eu confio, estaria a dar consultas online, saltei logo para essa oportunidade.
Ao longo da consulta e de alguns testes para tentar perceber a melhor direcção a tomar, mais eu falava, mais eu verbalizava o que ia cá dentro, mais eu pensava: mas porque raio eu sou tão crítica de mim própria?

Quando as pessoas me criticam ou insultam e eu não demonstro grande emoção, é porque vocês provavelmente não estão a dizer nada que eu já não tenha dito a mim própria. Eu estou constantemente numa batalha comigo mesma, de aceitar as minhas falhas… Isto num constante diálogo interior de “estás a fazer o melhor que podes”, que naturalmente leva a alguns distúrbios de humor mas mais cansaço pois é uma luta constante.

Para quem pensa que quem melhora de uma depressão ou de crises de ansiedade, fica instantaneamente curado… fiquem sabendo que isso está muito longe da verdade. Pessoas assim, estão em constante trabalho pois é como se um pequeno diabinho estivesse constantemente no vosso ombro a dizer que não somos capazes, que não valemos nada como pessoas, que não estamos aqui neste mundo a fazer nada… Há, apenas dias, em que conseguimos ignorar esse diabinho e nos sentimos confiantes mas há dias em que não ouvimos mais nada a não ser a sua voz irritante.

Por isso, é que sei que pedir ajuda logo no início é importante pois quanto mais arrastamos, pior é. Se partíssemos um braço, não iríamos pensar: Ó, não é nada, isto já melhora. Não, sabemos que algo não está bem e vamos resolver. Simples e lógico, certo?

Então porque não pensamos o mesmo para a nossa saúde mental?

Isto para dizer o quê… Que mesmo numa pandemia ou durante a recuperação de uma, é possível procurar ajuda. Se estamos dispostos a pagar por uma consulta no médico ou uma sessão de fisioterapia ou até mesmo o novo livro de um autor que adoramos… porque é que isso não é igualmente válido para uma consulta de psicologia? Saúde, seja ela física ou mental, não deveria ser considerada um luxo.

E, por fim, gostaria de frisar bem que não se demonstra fraqueza ou incompetência por procurar ajuda, só se demonstra coragem e inteligência. Por isso, espero que com este desabafo ajude a alguém que esteja a ser demasiado crítico consigo mesmo ou esteja a ouvir certas vozinhas exteriores a desvalorizarem o que sentem. Cuidem de vocês, procurem ajuda se for preciso e sejam gentis com as pessoas à volta pois nunca sabem as dificuldades que elas estão a passar.

4 comentários:

  1. Comecei a fazer terapia há quase 3 anos e foi das melhores coisas que já fiz por mim e até pelas pessoas à minha volta... Infelizmente ainda é algo visto de lado e até demasiado dispendioso para muita gente, mas sei que a pouco e pouco se vai desconstruindo essas ideias :)

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  2. Confesso que procurei ajuda à pouco tempo pq me senti a desaparecer. Comecei a ter ataques de pânico e o luto ainda me veio alterar mais a minha vida. Por mt que queiramos parecer bem, nós não somos de ferro e não há vergonha nenhuma em procurar ajuda. Somos fortes ou pelo menos tentamos ser. Beijinhos Corina

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  3. Em todas as piores circunstâncias da minha vida foi sempre a escrita que me salvou...
    Uma boa semana com muita saúde.
    Um beijo.

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  4. Ha uns meses estava no auge ďe uma grande pressao psicologica, fui gravemente injustiçada e senti-me sem esperança ou propósito na vida. Nisto percebo que devia procurar ajuda psicologia, precisava desabafar e receber orientacao. Encontrei um servico online de graça, para pessoas com problemas mas que nao tivessem sido diagnosticadas com depressao. Inscrevi-me e tive de aguardar um contacto telefónico. Ligaram-me so para confirmar os meus dados pessoais: nome conpleto' data de nascimento e nunero de telefone. Coisas que sinceramente nao queria facultar. Nao vi a relevância. Queria ajuda mas manter-me anonima. Pessoa para pessoa. Sem o interrogatório usual sobre os teus dados pessoais. Desligaram-me o telefone depois de os ter facultado e NUNCA MAIS ME CONTACTARAM. Senti-me mais um numero um objecto, uma estatistica, usada e desprezada. Foi a primeira vez que estendi a mao para pedir ajuda do genero e estava mesmo a precisar dela. Foi uma desilusão. Mais algo que prometia mas falhou. So existo em bases de dados. So me querem para isso.
    Foi a sensacao com que fiquei.
    Mas acredito que ajuda. Porque falar com amigos sempre ajudou e a psicologia e falar com uma pessoa formada em ajudar. Cada vez ha menos amigos e aumenta a necessidade de falar com alguem. Mas julgo ser dificil encontrar o que vale entre tantos academicamente qualificados mas cujo psicologoco tem problemas proprios e nao ajuda ninguem.

    Wuanto ao braço partido e dizer: "isso nao e nada, ja passa". Foi exatamente isso que fiz ha um mes atras. E o que os medicos recomendaram: nao faça NADA. So repouse.

    A mente, as vezes, tambem precisa de desacelerar parar e nao fazer nada sem ser repousar.

    Talvez um dos exercícios mais difíceis.

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Faz deste reino, o teu reino... Não te acanhes, está à vontade! Cá estarei para te ler.