Há um tema que eu queria escrever há uns tempos mas nunca tinha tido a inspiração para o fazer. Agora, preciso mesmo de deitar muita coisa cá para fora pois é um tema que me aperta o coração e que me move muito.
A mulher sempre foi considerada um ser inferior, muitas das vezes considerada pior que um animal! E a Humanidade, como vocês sabem, já tem uma idade avançada mas só em 1930/1940 é que as mulheres se emanciparam, lutando pelo direito de voto, de estudar, trabalhar fora de casa… O que raio nós andámos a fazer até então? Que tempos eram aqueles que as mulheres tinham receio de levantar a voz ou de perseguir os seus sonhos?
Recuando um pouco, o conceito geral, era que as mulheres asseguravam a vida doméstica, enquanto que os homens asseguravam a parte da caça. Mas se os papéis se invertessem, o casal seria considerado uma abominação. Porquê? Eles não se gabam de que os melhores chefs de cozinha são homens? Consideram as mulheres muito frágeis mas esquecem-se das Amazonas que eram astutas, ágeis e fortes! De onde vem esse preconceito?
Na minha opinião, esta questão da relativização teve o dedo (mão, braço, ombro…) da Igreja. De certeza que se forem aos livros de história, vão poder ver que ao longo da sua existência, a Igreja sempre se esforçou por rebaixar a importância da mulher. Porquê? Bem, incluindo o que a Igreja chama de teorias da conspiração, Maria Madalena foi uma das pessoas que mais ganhou influência na divulgação daqueles que eram os ensinamentos de Jesus. Foram inclusive encontradas provas que concluem que Jesus e Madalena foram casados. De forma a impedir que estes ensinamentos se espalhassem sob o domínio de uma mulher, o Imperador decretou a ilegalidade dos seus ensinamentos e ao matar Jesus havia então transformado um plebeu num mártir de uma causa que não conhecia, decretando assim a ilegalidade do culto cristão. Com o esforço de Madalena, os seus ensinamentos foram passando, aumentando assim o número de crentes exponencialmente. Uma coisa que gostaria de mencionar aqui é que com Madalena, os ensinamentos foram passados de boca em boca, com entreajuda e muita fé, ao contrário dos séculos seguintes quando a Igreja tinha que ter obrigatoriamente mais fiéis para subjugar e para pagar as contas, então muita gente passou a ser cristã mas sob pena de ferros quentes.
Continuando… O imperador Constantino ficou sem saber muito que fazer, a não ser legalizar o tal culto. Digo-vos, esta é a minha parte favorita de tudo, por isso atenção: o imperador convocou então os melhores e mais poéticos escritores, além de grandes pensadores do Império (já agora, pagãos) e encomendou um conjunto de textos que serviriam de mote ao culto agora liberalizado e com impostos! Como Madalena era ainda um alicerce do culto cristão, o imperador, que queria que o culto fosse feito à sua maneira, esforçou-se ao máximo para desacreditá-la, lançando ao mesmo tempo uma campanha de difamação da mulher em geral no culto cristão. Então desta forma, o papel da mulher mais do que relativizado, foi rebaixado! Prova disto é que nos Evangelhos se pode ler em S. Paulo: “Não autorizo que uma mulher ensine, nem domine um homem; ela deve ficar quieta e calada com a submissão que lhe é devida.”
Assim sendo, a Igreja faz uma analogia da mulher, ao símbolo do pecado e tudo o que é imoral. A ideia cresceu e proliferou pois bem lhes convinha. Convinha erradicar certas e determinadas religiões que colocavam a mulher como um ser igual ao homem. Uma dessas religiões era a dos/das Druidas, que mortos em massa, os seus esqueletos podem ainda ser visitados em certas cavernas pois as pessoas os consideravam sagrados. A Igreja chama-os de pagãos, bruxas e magos negros, pois eles se opunham à integração do império mas na verdade a sua religião pacífica resumia-se à adoração da Deusa Mãe (um Deus no feminino, estão a ver a heresia da coisa, não estão?), dominando todas as áreas das ciências exactas, como a matemática, cultivaram a música, a poesia, além de notáveis conhecimentos da medicina natural, fitoterapia e agricultura. Eram demasiado poderosos, e foram erradicados com espadas e difamações.
Sempre com os mesmos métodos persuasivos, a Igreja encontra-se com mais um problema. Mulheres com conhecimentos de ervas com propriedades curativas que passavam de geração em geração, outras religiões proliferando (Judeus, Nórdicos…), levando assim para a época mais negra da história: a caça às bruxas e a Inquisição! Muita gente foi assassinada, famílias inteiras dizimadas e milhares de mulheres enforcadas. Porquê? Por medo. Nós temos tanto medo… Medo de quê ao certo? Não sei. Depois, claro, veio o Iluminismo e a sociedade foi evoluindo, no entanto, sempre com a mulher com aquele papel fantástico. Entretanto, gostaria de salientar que ainda muito antes de 1930/1940, houve uma luta pelo trono de Inglaterra por parte de quem de direito: uma mulher. Devidamente reconhecida, é claro, mas engraçado que isto aconteça no tal país onde abrigava a religião que tratava as mulheres com igualdade e respeito. Uma coincidência engraçada, a meu ver.
Voltando então a 1930/1940, de certeza que estarão recordados que por volta destas datas foi a Segunda Guerra Mundial, onde houve uma expansão da importância dada ao papel feminino no mundo laboral. Pois como todos os homens, que tinham força para andar e disparar uma arma, partiram para a guerra, houve necessidade de encontrar novos meios de sustento para preencher as lacunas económicas. Assim sendo, a pedido dos governos, as mulheres saíram das cozinhas e foram para os escritórios, fábricas… Onde fossem precisas! Porém, no final da guerra parece que queriam à força cavar o tal fosso entre os papéis do homem e da mulher na sociedade. Com isto as mulheres começaram a pensar: então quando os homens não estão cá, somos boas para trabalhar mas quando voltam temos que ceder o lugar aos meninos? Porquê?
Só mais tarde, na década de 50/60, as mulheres voltariam a assegurar o seu papel na sociedade (ainda que limitado). Estas décadas ficaram marcadas por uma ampla reflexão do papel das mulheres na sociedade, transportando a sua luta para os media através da escrita e da literatura. Caramba, estamos no século XX e a informação sobre o corpo feminino é quase inexistente, quando para o homem já se sabia da patologia da hiperplasia da próstata! Tínhamos que nos revoltar e já era tarde. Com estas revoluções, a ideia de “trabalho de mulher” e “trabalho de homem” foi-se desmistificando aos poucos, mas se formos bem a ver é possível ainda hoje encontrar-se essa distinção. É verdade que as mulheres têm vindo a ganhar território em muitas áreas, mas ainda não o suficiente para que se possa afirmar que existe uma igualdade entre sexos. Há ainda aquela questão de que os patrões preferem contratar um homem para o serviço pois a mulher pode engravidar, incluindo que há mulheres que para o mesmo trabalho que um homem, recebem menos. Desumano, pensam vocês? Isto ainda acontece… Já para não falar daquele facto de que o homem ter mais do que uma mulher é visto como um indício de masculinidade mas à mulher é automaticamente colocado um rótulo de promiscuidade. Não estou a dizer que com isto, “vamos embora mulheres do mundo para a rambóia que se faz tarde”, mas que tal considerar o homem com várias mulheres promiscuidade também? Mudar a mentalidade tão enraizada de machismo é difícil mas não impossível.
Analisa-se ainda hoje também o papel da mulher em diversos locais do mundo, e chegou-se à conclusão que a libertação em determinadas zonas é bem mais complicada. Aliás, ainda hoje a mulher continua aprisionada como é o caso do Afeganistão, onde a mulher é tratada de forma repugnante. Isso também me levanta uma outra questão, será que se dermos a essas mulheres adultas a escolha de sair e começar num sítio onde ela é respeitada, será que elas iriam? Duvido muito mas compreendam, elas foram criadas a dizerem-lhes: tu és lixo. Por mais que não seja verdade, ao final de algumas vezes começamos a acreditar que é verdade…
Tal como nós, mulheres ocidentais, fomos criadas a acreditar que só somos verdadeiras mulheres com um homem ao lado. Quando vejo certas cenas do género, uma amiga a perguntar à outra como está de amores e ela diz que nada, não há mouro à vista, e outra que perguntou faz uma cara de “coitadinha, tenho tanta pena de ti”. Pena? Porquê raios?
Sei precisamente o que vocês estão a pensar: e tal, estás a falar de barriga cheia, tens namorado e blá blá blá. Sim, com certeza, tenho namorado, gosto imenso dele, acho que é maravilhoso estar-se apaixonado mas se não o tivesse encontrado ou se entretanto nos chatearmos prefiro ficar quietinha a estar com alguém por estar. Não deixarei de ser a Corina só porque não tenho namorado! Só porque uma mulher prefere uma carreira a um homem ou não se conforma com qualquer besta que aparece à frente, é considerada o mostrengo da cidade. Chateia-me profundamente porque afinal os homens não são os únicos machistas, mulheres conseguem ser bem machistas! Se nós próprias não mudamos as nossas mentalidades, vamos fazer milagres com os homens? Não me parece.
Ainda há muito a mudar e podem pensar que é apenas um sonho mas afinal as utopias, por vezes, tornam-se doces realidades. Apenas vos digo, está tudo nas nossas mãos! E nunca se esqueçam, por mais que se tente não se consegue matar uma ideia...