Em primeiro lugar, tenho que agradecer à Words à lá Carte e à Shadow Frozen pelo seu projecto fantástico #adagioinlibri, que foi onde efectivamente conheci a autora Sónia Ferreira e consequentemente este livro! Sim, porque só a história em si de como a ideia surgiu à autora e como ela o produziu com recursos 100% portugueses, é só brutalíssima e recomendo verem o seu episódio para saberem mais. Além disso, as meninas organizaram toda uma leitura conjunta, que foi brutal para debater o livro e ressacarmos juntos também, LoL.
Em segundo lugar, como já não faço há algum tempo vou vos deixar algumas das minhas citações favoritas.
“Os mortos não contam histórias.”
“Que todos aqueles que partem daqui hoje, voltem amanhã. Que a nossa carne não lhes sirva de alimento e que o seu sangue regue esta terra. Já que a querem tanto, que lhe dêem de beber!”
Enquanto um lusitano respirar e tiver força para levantar uma espada que seja... vai sempre haver Lusitânia. O que nós somos não desaparece com o nome que damos às terras, às estradas e aos deuses. O que nós somos, somos...só a morte pode apagar.
Sim! Normalmente, deixo só uma mas este livro... Meu Deus! Por isso, tenho que deixar uma menção honrosa para simplesmente um cântico/poema que se encontra no livro e me deixou arrepiada até ao tutano.
Da pedra fez-se a montanha
E na montanha nasceu o rio.O rio gritou e desceuE vida aos homens deu.Os homens sangram e morrem,Fazem-se cinzaE voltam às pedras.Pelos deuses eu juro,Sobre a terra que viu nascer os pais dos meus pais,Eu juro, sob a noite que esconde os mistériosE a lua como testemunha,Eu juro, sobre o corpo das minhas irmãs mortas,Eu juro...Aqui, onde o vento me levará,Pela lâmina da minha espada,Morrerá quem a morte me trouxeE quem a morte trouxe aos meusTong a toing mo thuath!(Tradução livre para: Juro o que jura o meu povo)
Relativamente ao que achei do livro, vamos por partes. Acho que primeiramente irei falar da edição. Não é uma coisa que normalmente mencione mas neste caso, tendo em conta que é uma edição de autor, merece mesmo que fale sobre ela. O cuidado de design, paginação e as ilustrações, são para lá de fenomenais!
Quanto à escrita, como foi precisamente uma publicação de autor, não houve editoras envolvidas e saiu tudo do bolsa da autora, nota-se a falta de uma revisão. Não necessariamente de erros ortográficos (muito honestamente acho que só reparei num ou outro, nada de outro mundo) mas sim relativamente a homogeneizar a cadência de escrita. Nota-se um "salto" da primeira parte do livro para a segunda parte, se tivesse como que idêntico ao longo do livro, ficaria muito melhor, na minha opinião.
Outra nota que gostaria de deixar é que a escrita ao início me fez sorrir pois nota-se mesmo que tinha sido uma Enfermeira a escrever, LoL. Com um tom bastante científico mas a verdade é que o background profissional da autora é mesmo Enfermagem, aliás é especialista, portanto daí me ter feito sorrir mas não achei nada de problemático.
Quanto ao que é efectivamente este livro? Ficção histórica com o tema da nossa história Lusitana. Sim, aquela história que está perdida da altura da invasão dos romanos na Peninsula Ibérica. Não estou a dizer spoiler nenhum quando digo que o meu queixo caiu ao chão quando vejo duas palavras: mitologia lusitana.
Gente, para quem me segue há mais tempo sabe perfeitamente a minha paixão por mitologias, portanto quando eu li logo nas primeiras páginas estas duas palavras e a menção da autora dos deuses lusitanos? Eu perdi completamente a cabeça!
Como assim nós tínhamos mitologia? Claro, que devemos ter tido mitologia mas como é que eu não sei nada disto?! Como é que eu nunca pensei em pesquisar sobre a mitologia do nosso próprio país? Vocês não têm noção, eu tive mesmo que pousar o livro e tratar de pesquisar.
Sim, um livro de fantasia, portuguesa, fez-me pesquisar história... estou tão espantada como vocês.
Isto para dizer o quê? Que a autora fez um trabalho de pesquisa não só brutal mas como impossível. Pois a verdade é que a história é contada pelos victoriosos. Ou seja, antes da invasão dos romanos, os povos desorganizados, um deles os Lusitanos que residiam no coração das montanhas de Portugal, não tinham ainda a tradição escrita, era tudo muito ainda o contar de histórias à volta da fogueira. Isso fez com que tenhamos perdido grande parte da nossa história mas do pouco que temos, a autora encontrou!
Não só isso, ainda incluiu algumas referências celtas. Que me fez questionar o porquê... Até ali a autora tinha uma pesquisa admirável, então lá fui eu pesquisar outra vez, LoL. E não é que fiquei a saber que Portugal tem mesmo vestígios da cultura celta acima do rio Douro! Não foi uma alta surpresa pois sou de Trás-os-Montes e em conversa com colegas escoceses aqui no UK, me apercebo de certas semelhanças. Contudo, não foi algo que alguma vez tivesse pesquisado ou tentado saber ao certo e foi este livro que me levou a isso!
Outra coisa que gostei muito foi as duas timelines no livro, não vou dizer quais mas digo apenas que é brutal como a história não se fica apenas por um espaço temporal, como a alma lusitana continua pelos séculos. Pois além da aventura épica da altura ainda antes de Cristo, com a nossa história, com a nossa gente, com o nosso Portugal, tem também um romance lindíssimo...
Para os fanáticos de fantasia, tem também um mapa logo assim no início. Como leitora ávida de fantasia, todos sabemos da importância de um mapa. Neste caso, não só o mapa como a capa foram ilustrados pelo artista Pedro Nascimento, que ficaram mesmo incríveis!
Além disso, gostaria de dizer que no final, mesmo no final do livro existe uma resma de páginas onde a autora nos explica quem eram as personagens históricas e as fictícias. Um esforço de louvar! Contudo e porém, o meu coração partiu-se em pedaços, quando cheguei efectivamente ao final da história, que acaba assim como que num climax da enredo, pensando que ainda havia muito para contar devido à quantidade de páginas no final, LoL. Isto para dizer o quê? Para quem vai ler este livro, pela vossa saúde, não salte para o final! Sei que há pessoal que gosta de esfolhear o livro e tal mas não façam isso para o final do livro pois vão apanhar com spoilers na lista de personagens.
Outra coisa que me estava a perturbar, enquanto estava no início da leitura, era o título do livro. "Mors-Amor" é de facto um título peculiar mas a autora deixou a migalha do poema de Antero de Quental logo no início... ao longo da história e ao finaliza-la percebi o seu sentido: a luz e as trevas, o ideal e o desalento, a morte e o amor... são dois lados da mesma moeda.
Em suma, caso ainda não tenham percebido, eu adorei mesmo este livro! Tendo só a crítica da revisão, a autora conseguiu captar-me de corpo e alma, com esta história que faz parte de uma trilogia. É de louvar não só o facto da autora ter produzido este livro com recursos portugueses, o ter escrito nas suas horas vagas como Enfermeira (uma imensa admiração deste lado, com certeza) mas também pelo facto de que este é o seu primeiro livro publicado!
Por isso, aconselho vivamente este livro para qualquer fã de ficção histórica ou fantasia, tendo só a ressalva de que a escrita não é a mais complexa, enfadonha ou maçuda, o que para mim até é uma mais valia pois fica ainda mais abrangente. Além de que a sensação que tive foi que não havia descanso com este livro! Não dá como o pousar, LoL.
Acabei o Mors-Amor com vontade de pegar numa espada e ir para a montanha lutar... Daí dizer que estou mortinha que saia o segundo desta trilogia!
P.S. - obrigada Night por teres ouvido a enxurrada de asneiras que caiu no teu chat no momento em que acabei o livro. Em minha defesa, estava em estado de choque com aquele final e uma pessoa tem que deitar cá pra fora, LoL.
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