24 de junho de 2019

A mãe emigra



Ser mãe por si só, é difícil mas ser mãe longe da família é extremamente difícil. Eu ia escrever este post direccionado para as mães emigrantes mas não quero deixar de fora as mães imigrantes pois é igualmente difícil.

Ser mãe emigra significa por vezes não poder partilhar a barriguinha com a família, aquele pontapézinho, aquela mexidela quando ouve uma voz familiar, já para não falar da ajuda que não temos caso não tenhamos uma gravidez santa.

Ah! Esqueci-me de que ainda nem fizemos a primeira ecografia e já estamos a sofrer por antecipação a pensar nestas coisas.

Ser mãe emigra é ter medo que na altura em que as contracções comecem ou que as águas rebentarem, que o marido esteja a trabalhar e não temos mais ninguém para nos socorrer. 
É ter pânico de com o stress na altura do parto não se perceber o que dizem e não saber o que fazer ou o que se passa. Se não tiver pessoas amigas com crianças, ter receio que a nossa criança não saiba interagir com outras. Ser mãe emigra é constantemente estar preocupada se a nossa criança vai perceber e falar duas línguas sem ter nenhum atraso na escola e ainda assim conseguindo comunicar com a família em Portugal.

Não ter ninguém com quem deixar o rebento para poder ir a consultas, ginásio, ter um jantar romântico com o marido ou simplesmente ter uma hora de silêncio. Sim podemos ter pessoas que podemos ligar numa emergência mas quantas situações são mesmo uma emergência? Não muitas... Ou ainda o facto de pagar quase um rim por meia dúzia de dias na creche.

Ser mãe emigra é essencialmente ter dias em que temos um sentimento esmagador: "eu estou sozinha". Infelizmente esse sentimento estende-se para culpa pois os nossos filhos também ficam a perder... Enquanto que outras crianças vão ver os avós aos fins-de-semana, os nossos é de vez em quando ou através de um telemóvel. Sim, a internet e as videochamadas ajudam mas não é a mesma coisa que os miminhos dos avós, as brincadeiras dos tios e as traquinices dos primos!

Quando a família nos vem visitar, temos um cheirinho de como a vida seria se vivêssemos perto, já para não falar do peso que se levanta dos nossos ombros. Sim, eu sei que nenhuma família é perfeita mas para quem a tem por perto, aproveite ao máximo a ajuda e suporte.

Ser mãe emigra é ser mãe longe das nossas mães e sobre isso acho que não preciso de dizer mais nada.

É sermos tanto emigrantes aqui, como lá pois temos a nossa estabilidade emocional num país e estabilidade financeira noutro. Mas termos emigrado foi a nossa melhor decisão: não só temos estabilidade financeira, temos oportunidade de progressão na carreira para podermos dar um futuro melhor ao nosso rebento; temos o nosso próprio cantinho; podermos passar férias em família sem contar tostões. Mesmo assim, ser mãe emigra é difícil, é doloroso mas levantamo-nos, mesmo na exaustão, pois em primeiro lugar estão os nossos filhos.

E para todas as mães emigras... gostaria de deixar a mensagem, vocês não estão sozinhas!

8 comentários:

Matilde disse...

E mais uma vez leste-me os pensamentos e deixaste-me com lágrimas nos olhos. Muito obrigada por estares ai desse lado!

Green disse...

Acredito que não seja nada fácil, essa é uma das coisas que mais me aflige na questão de me mudar de malas e bagagens para outro país. Gabo-te a coragem.

Cherry disse...

Deve ser mesmo difícil, nem nada para imaginar :(. É preciso mesmo muita coragem.
Beijinhos
Blog: Life of Cherry

Kique disse...

Que bonitas palavras
Gostei
Um grande bjs

Kique

Hoje em Caminhos Percorridos - O bicho mais perigoso do mundo...

Patricia Bernardo disse...

Revejo nestas palavras... O meu rebento mais novo tem 2 meses, o mais velho quase 9 anos e estou há 2 anos emigrada. Não é fácil ser mae longe da família..dos meus pais... Faz-me sentir triste e duvidar da escolha feita, mas temos que seguir em frente..

Cynthia disse...

Compreendo a parte de querer poder viver sem andar a contar tostões, a sério que sim. E sei que o trabalho em Portugal é muito pouco valorizado, somos muito mal pagos, somos. Tenho feito uma ginástica orçamental imensa desde que saí de casa dos meus pais. Fazemos sacrifícios para poder ter algumas coisas. Mas... desde que comecei a perder pessoas que percebi que não há nada mais importante do que ter a família perto. Perdi o meu tio mais próximo no ano passado, no início da minha gravidez. Ele nunca chegou a saber que eu estava grávida. A minha filha nunca o vai conhecer. E é assim porque não há outra opção. O meu avô está cada dia pior de saúde, nem sempre reconhece as pessoas, tem conversas sem nexo, fala do passado como se lá estivesse, não recorda os nossos nomes. Tenho uma prima grávida, cujo bebé ele já não vai conseguir pegar ao colo, nem acarinhar como fez com os restantes netos e bisnetos. E é assim porque não há outra opção. Tenho uma família enorme e nem todos os membros me são igualmente importantes. Mas os que são prefiro ter por perto. Não quero que os meus filhos cresçam sem a alegria de ter uma família. Perto, quero eu dizer. Presente. Acho que seria incapaz de lhes fazer isso.

Love Adventure Happiness disse...

Aqui vão ser 3 línguas porque boa parte de comunicação com amigos é em Inglês mas já vi outros miúdos serem bem sucedidos, ela não será diferente (espero)...
Tenho 3 pessoas que já se voluntariaram mil vezes para ficar com ela só para nós termos tempo e eu usei muito poucas vezes. De noite nem me importo que ela até se porta bem e dorme, mas de dia sei lá como vai ser, então não quero "dar trabalho".
A nosso favor é não estarmos assim tão longe, UK, Holanda é um tirinho até Portugal, tanto que tive aqui um stress aos 4 meses e o meu pai veio uma semana. Ainda grávida, enquanto os meus pais cá estavam de visita marcaram cesariana para 2 dias depois deles irem embora e a minha mãe estendeu a estadia mais 3 dias, ainda viu a neta. Se vivesse no outro lado do mundo, provavelmente nem isto teria sido possível.
Sim é mais difícil, por muitos amigos que se voluntariem a ficar com as crianças não é igual ao à vontade que temos com os nossos pais... Mas como dizes foi a melhor decisão, pelo futuro deles e pelo nosso também e isso tem de contar e conseguimos fazer uma família aqui, tenho amigos que são como família!

Magui disse...

Não sou mãe emigrante, mas tenho uma filha também enfermeira, a viver no UK e nem quero pensar se ela um dia engravidar sem eu estar perto dela.
Compreendo perfeitamente essa angústia.
Beijinhos