25 de agosto de 2021

Circe (opinião SEM spoilers)

 



Este é o segundo livro que leio da autora Madeline Miller. O primeiro foi o atribulado The Song of Achilles, que para quem leu essa review, sabe que foi por uma falha técnica da minha parte que esse livro não se tornou um dos meus favoritos do ano. Isto para dizer o quê? Ora bem, eu já sei que gosto da escrita da autora por isso estava mesmo ansiosa por ler este livro. 

Este livro é sobre a filha mais velha do titã Helios (não necessariamente o deus do sol, porque esse cargo está para o Apollo mas é mais como que a personificação do sol... eu nunca disse que mitologia grega era fácil, ok? LoL) e da Perse (uma ninfa dos oceanos, filha ela própria do titã Oceanus). Apesar deste estatuto e pedrigree na sua linhagem parental, Circe é como que alienada, vista como alguém inferior, sendo gozada e até mesmo ignorada. 
A aventura deste livro então é isso mesmo, seguindo Circe pela sua vida como divindade... conhecendo os seus medos, os seus amores, as suas traições e, principalmente, a descoberta do seu poder como feiticeira/bruxa.

Claro que, para quem tem um pouco de conhecimento de mitologia grega, reconhece as divindades mencionadas ou até mesmo certas viagens mas o que está verdadeiramente à espera deste livro, é da interacção pela qual Circe é efectivamente conhecida. Ela foi a feiticeira que transforma os homens de Odysseus em porcos e o toma como seu amante. Nesta história épica, Circe é vista como a feiticeira com um objectivo ou com uma faceta vilanesca. Mas a autora, Madeline Miller, coloca a personagem num prisma muito interessante. 
Pois Circe é uma personagem relativamente rara na mitologia clássica e nos seus retellings, de existir sem a autoridade masculina... e o que acontece nas viagens épicas a personagens femininas sem terem um marido ou um matrimónio afiliado, são logo objectificadas e vistas como um prémio ou catalogadas como vilãs. Portanto, não nos admira que ela tenha efectivamente os transformado em porcos, não é? 

A autora toma completo proveito disto e muito mais! Apesar de eu saber que é "apenas" um retelling escrito por uma pessoa com um extenso conhecimento da mitologia, contudo e porém, fez-me mesmo pensar na narrativa perdida de tantas divindades femininas. No que toca à Circe, sempre foi vista como a vilã na história clássica mas porque aos olhos dos homens, eles podem chegar e tomar aquilo que não é deles. Sentem que é do direito deles pois são homens, independentemente se estão a lidar com uma mulher mortal, uma ninfa ou uma deusa... se essa figura feminina se defende, a mesma é então retratada como uma vilã. Cada vez mais me debruço na procura de uma narrativa diferente, seja em livros ou seja da minha própria cabeça, como exemplifico no vídeo "O que se passa na tua cabeça?"

Relativamente à escrita, achei ligeiramente diferente do The Song of Achilles, ligeiramente mais poética. Ainda sim lindíssima mas lá para o final do livro já estava um bocado saturada dos floreados. Provavelmente estava mais cansada, não sei, LoL. Simplesmente achei que a narrativa estava tão interessante que não precisava de tanto floreado mas, por outro lado, percebo e torna também um livro mais rico assim.

O que torna o livro aliciante, mais uma vez, é a visão extensiva de um vilão, tornando-o num anti-herói mas para saberem mais sobre estas nuances podem sempre ouvir as discussões no "Geekices do Demo" com a Words à la Carte.

Em suma, o livro é muito bom em termos de narrativa, se calhar dei-lhe uma pontuação mais baixa que o The Song of Achilles porque, lá está, me cansei um pouco dos floreados e nunca me consegui ligar tanto a personagem como me liguei com o Patroclus por exemplo. Contudo, não consigo de ver o grande mérito da história a ser contada e principalmente pela sua perspectiva.

Aconselho vivamente se querem ler um retelling ou algo de uma personagem feminina da mitologia grega com uma perspectiva nova!

Já leram este livro ou outro da autora? Gostam de ler retellings de mitologia?

11 de agosto de 2021

It ends with us (opinião SEM & COM spoilers)

 


(Spoilers estão protegidos aquando visualizado em versão Web mas para conseguirem ver basta selecionarem o texto)

No ano passado, eu tinha pedido a vários super fãs da Colleen Hoover para me indicarem os melhores livros dela, vendo as recomendações escolhi três na altura. Este livro, no entanto, foi-me recomendado recentemente pela Momentos de Ataraxia e pelo Uma Leitura e Meia, eles não combinaram mas num espaço de um mês tinham-me recomendado o mesmo livro, dizendo: quero saber o que achas deste! Ora bem e como eu adoro sempre um desafio, tratei de arranjar o livro.

Relativamente à escrita, esta continua super acessível. Quanto à premissa temos um livro à volta da frase: "Sometimes the one who loves you is the one who hurts you the most." Por isso gostaria de colocar aqui o trigger warning/gatilho de relações abusivas.

Temos a nossa personagem principal a Lily, que se licenciou em Business e mudou pra Boston, que encontra Ryle logo no início do livro num telhado de um prédio na cidade. Em conversa descobre que ele é neurocirurgião, arrogante, ambicioso mas também sensível e brilhante... Como seria de esperar encontram-se mais uma vez e no meio disto tudo ele tem uma completa aversão a relações ou compromissos... Mas Ryle não é o único que tem problemas a resolver pois também Lily tem que curar umas feridas antigas.

Este livro para mim está dividido em dois. Na primeira parte, revirei tanto os olhos que acho que fiz todo um TAC cerebral. E porque é que revirei os olhos? A quantidade de clichés foi só incrível...
No início o meu primeiro pensamento foi que seria a típica cena de ele não quer uma relação ou não está preparado para uma mas ela investe demasiado na relação e portanto está todo um caldo entornado. Aliás toda a cena dele lhe implorar uma one night stand? Por...amor...à...santa... 
Nesta primeira parte somos também introduzidos então a outra timeline onde sabemos mais do passado da Lily e, na verdade, foi mesmo esta parte que me fez continuar a ler o livro pois estava a gostar bastante.
Mas quando mudamos para a perspectiva com o Ryle, em primeiro lugar, adorei o facto me ter mencionado que achou muito estranho o facto dele aparecer de scrubs na rua ou ir para casa assim, só que na America é mesmo assim. Não me perguntem porquê porque eu também não sei, LoL.
Contudo, com o Ryle teve um grande red flag, logo na cena de não querer uma relação mas não aceita totalmente a cena da Lily de não fazer sexo mas depois já diz que ela é uma droga, por isso já pode tentar uma relação, e logo a seguir já quer conhecer a mãe dela... isto tudo num muito curto espaço de tempo! Ah! E a cena de sexo a brincar aos médicos? Por amor da santa vezes mil, LoL. Além de que quando eu leio numa personagem que supostamente é cirurgiã, eu já assumo que algo vai acontecer às mãos.Este livro não me desiludiu, LoL.

Depois na segunda parte do livro, entramos então na parte mais pesada no livro, foi nesta parte que prendeu efectivamente a minha atenção. Adorei a componente do porquê de muitas mulheres não saírem de uma relação abusiva mas sim o facto de não questionarmos o porquê do homem ser abusivo, aliás parece-me que o livro foi mesmo escrito à volta desta premissa.
As cenas de violência doméstica estão muito bem retratadas e de facto quando leio o Epilogue compreendo o porquê. 

Contudo e porém, o meu diagnóstico para este livro é que de facto a parte do relacionamento abusivo está feito com cimento e tudo o resto no livro está com fita-cola. O livro podia ser um grande livro com este tema mas ficou um pouco aquém porque tudo o resto parece que foi só atirado para dentro da panela. Percebo, no entanto, talvez o porquê de estar assim... É que chegando efectivamente ao Epilogue, onde a autora nos refere que aquilo é baseado na vida dela e que não só a própria mãe dela passou por uma relação daquelas, como algumas das cenas de violência foram cenas que aconteceram com a mãe. 
Ou seja, muito provavelmente a autora queria era ver o livro pelas costas a certo ponto. Percebo mas tenho pena pois tem uma mensagem super poderosa, já com o título, de que o ciclo abusivo termina então ali. Termina com o nascimento da filha pois não quer que ela cresça num lar abusivo. Adorei também o facto de a autora ter colocado linhas de apoio no final do livro para isso mesmo...

Já leram este livro? Aconselham outro com esta premissa? Ou até mesmo outro da autora que eu ainda não tenha lido?

6 de agosto de 2021

Geekices do Demo: Comic Books - a evolução

 


Neste episódio falamos da origem das comics como as conhecemos hoje, porque convém começar pelo início, não é verdade? E isso implica, como em muitas coisas na vida, iniciar a mensagem como humor, para depois introduzirmos assuntos mais sérios e pesados. Preparem-se para toda uma viagem através desta combinação de texto e ilustrações, combinada com a experiência de cada um e claro, a Cultura e a História como pano de fundo e que nos dá toda uma perspectiva muito interessante destas narrativas em "quadradinhos". 

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