20 de outubro de 2021

Carmilla (opinião SEM spoilers)



Não será por acaso que guardei esta review para esta altura, não é? Faz este mês um ano em que li o Drácula de Bram Stoker pela primeira vez e depois de o ter lido, decidi que tinha que ler Carmilla, de J. Sheridan LeFanu pois é um livro que o antecede. 

Aliás eu menciono precisamente este livro no meu vídeo "O despertar do vampiro", que gravei aquando uma pequena pesquisa sobre o folclore. Pois o Carmilla foi publicado em 1872 e o Drácula em 1897, ou seja, não só é interessante o facto de ambos os autores serem irlandeses e com backgrounds católicos, como também é o facto de o Carmilla ser o mais "puxadote" em nuances homosexuais. Tendo em conta o período em que foi escrito e o ambiente conservador em que se vivia, este conto acaba por corroboar precisamente aquilo que digo no vídeo de "O despertar do vampiro", em que refiro que os vampiros tanto na literatura como nos filmes, tendem a "puxar a barra" dos limites da sociedade.

Não achei o inglês particularmente difícil, como é normal ter essa ideia preconcebida para clássicos. A linguagem não só é acessível como preenchida das cortinas de fumo, do mistério e do suspense, que é tão habitual neste género gótico. 
A história, que se passa no século 19, é basicamente sobre uma menina, em que o seu pai acolhe uma outra menina, a Carmilla, sendo esta estranha e simplesmente linda. Ao longo da narrativa cria-se toda uma ligação entre as duas, além claro do mistério principal.
Gostaria de deixar uma nota que quando este conto foi publicado o folclore dos vampiros não estava imensamente presente na sociedade, principalmente deste lado da Europa. Por isso, acho que é preciso ter isso em conta quando se lê este conto. Além de que LeFanu não tem toda a simbologia dos vampiros no seu conto pois isso veio mais tarde.

Não posso dizer muito mais pois como é um conto, tenho receio de dar muitos spoilers mas se quiserem uma recomendação para uma leitura para este mês ou para vos acompanhar na noite de Halloween, Carmilla é perfeito! Daí recomendar a qualquer entusiasta deste tipo de folclore e até mesmo em termos de interesse de como é que este livro sobreviveu tendo nuances tão vincadas de homossexualidade. Mais e mais me entusiasma em ler sobre a psicologia à volta dos vampiros... talvez um dia, LoL.

Já leram este conto clássico? O que vão ler para esta quadra?

8 de outubro de 2021

Born a Crime (opinião SEM spoilers)



Eu sei que já mencionei este livro várias vezes aqui no blog e até tenho todo um episódio com a Anatomia do Livro a discutir o mesmo. Se calhar por sentir que existe tanta coisa a dizer sobre este livro e sentir também a sua importância, acho que por isso é que nunca me lancei a fazer efectivamente uma opinião... Por outro lado, senti que estava em falta pois considero que é uma leitura obrigatória para toda a gente, além de que fica perfeito em jeito de celebração do Black History Month aqui no Reino Unido.

Aliás é um livro que recomendo sempre em formato audiobook! A razão pela qual eu aconselho neste formato (que podem sempre ouvir enquanto estão a ler), pois é narrado pelo o autor. Trevor Noah é um comediante da África do Sul, agora mais conhecido por ser o apresentador do The Daily Show. Ele fala fluentemente pelo menos 6 línguas e dá uns toques noutras tantas... ele menciona cada uma delas no seu estado natural no audiobook pois a multilinguistica é uma grande parte da África do Sul (que para quem não sabe tem 11 línguas oficiais)

Começamos o livro a pensar que é apenas mais uma autobiografia com uns tons de comédia.. mas a verdade é que a maior parte dos comediantes são grandes observadores, extremamente perspicazes e eloquentes na exposição das coisas mais banais às mais sérias. O livro é bem mais do que uma autobiografia, é uma análise de como um país entrou com demasiada facilidade e viveu com o Apartheid durante anos, influenciando a vida de milhões.

Aliás o título do livro é uma das piadas da família do Trevor pois a mãe é negra e o pai é branco, na altura era proibido por lei haver qualquer tipo de interacção, daí ele dizer que nasceu um crime. Então o livro é isso mesmo, a explicação de como é que os pais dele se conheceram, o tiveram, como tiveram que viver em família (em casas separadas), a força da natureza que é a mãe dele, que muito sinceramente ela precisava de o ser pois o Trevor era bastante traquina e fazia bastantes asneiras, LoL. 

Temos então no livro, temas como a cor de pele que é obviamente discutido mas além disso, o racismo que ia também para a língua falada, onde morava, aos seus antepassados, etc. Chegando à conclusão que o preconceito é tão fácil mas tão fácil de acontecer e de existir, estando nas nossas mãos mudar isso.

No final, percebemos que na verdade o livro não é de todo uma auto-biografia mas sim uma ode a uma pessoa muito importante na vida do Trevor Noah. 

Já leram este livro? Ou já ouviram o audiobook? Ficaram intrigados?