15 de abril de 2022

O encanto dos retellings


 Acho que vocês já perceberam que eu adoro mitologia. O que é no mínimo engraçado porque não sou de todo religiosa... 

Para quem está confuso com esta frase, eu fiz um post há tempos a explicar as ramificações do folclore. Os mitos, são histórias de folclore com uma base religiosa, que muitas vezes são usados para explicar a natureza tanto do mundo ao nosso redor como também da natureza humana. 

Ou seja, muitos dos mitos foram escritos e são efectivamente parte tanto da nossa evolução e história da humanidade. O problema com o folclore é que muito teve por base a transmissão oral... Mitologia não foi diferente e muito do que foi passado para o papel, foi escrito, na sua maioria, por homens pela perspectiva masculina (depois traduzido por homens também) e que na altura que foi escrita podia não ser a total verdade mas com o passar das Eras e com a evolução dos mesmos mitos, foram-se afastando ainda mais das histórias verdadeiras. 

Por isso é que sentimos a perda da informação no culto feminino mas também da alteração de muitos mitos. A ânfora da Pandora tornou-se uma caixa. A romã da Eva tornou-se uma maçã. 

Ou até mesmo a Medusa que ao querer ser intocável, além de se ter tornado num monstro, homens criaram o desafio de quebrar a sua resistência e celebravam o quão perto conseguiam chegar. 

Aliás, se repararmos todos os detalhes destas histórias podem mudar, aparte do pormenor de ser sempre uma mulher representada com a sua mão na porta dos infernos, pronta para deixar todos os demónios e males entrar no nosso mundo. 

Mas quem sabe se Athena não gritou de fúria no dia da morte de Medusa? Se calhar ela queria vaporizar o homem que segurava a cabeça dela, como se de um troféu se tratasse. Se calhar os deuses queriam abrir a Terra e deixar que Gaia engolisse tudo, porque o mundo estava cheio de homens que se intitulavam de heróis por não respeitar limites e reclamando mulheres como prémios... 

Como disse o interessante dos mitos é ver o que a sociedade de há milhares de anos atrás acreditava e pensava. No entanto, é preocupante ver que esta narrativa ainda se mantém e que afinal, desde então, não evoluímos assim tanto. 

É por isso que adoro retellings. É como se estivéssemos finalmente a tomar controlo da nossa história, a forjar a verdadeira narrativa e a retomar aos ideais que talvez estavam apenas perdidos no tempo. Descobrimos que afinal os heróis tinham valores egocêntricos. Apercebemo-nos que certos vilões foram categorizados para preencher uma determinada narrativa.

Um retelling é uma brilhante maneira de repensarmos de como a história poderia ter sido, pois o limite é a imaginação humana!

Por isso, é que para sempre irei me captivar com as palavras "Era uma vez..."