Em primeiro lugar, quanto à
cultura gótica, que é uma das mais antigas subculturas em existência e que sempre foram alvo de muitas críticas, preconceitos e até discriminação por parte de algumas personagens menos informadas. Esta cultura é por muitos identificada como sendo um conjunto de pessoas pálidas, vestidas de negro, que sacrificam animais e que entregam a alma ao Diabo… As coisas habituais. Mas os góticos são pessoas como quaisquer outras, apenas com a diferença no que diz respeito aos seus gostos, nomeadamente estéticos, estilo de vida e formas de encarar a mesma.
Para as pessoas mais preconceituosas, digo-vos já que é impossível determinar se os membros desta cultura são mais ou menos violentos, criminosos, confusos, artísticos ou atenciosos do que outras pessoas, mas a roupa e a música que ouvem levam a que sejam apelidados de satânicos, perigosos, obcecados com a morte, entre outras coisas. No entanto, dificilmente se vai ver noutras culturas ou estilos de vida, pessoas mais pacíficas, cultas e educadas do que dentro desta cultura. Por isso, os góticos são essencialmente distinguidos das outras subculturas maioritariamente pelo estilo visual e gosto musical.
Não vou desta vez prenunciar-me sobre as bandas que normalmente ouvem porque nem toda a gente concorda no que é
“Gothic music” ou o que está relacionado com ela. Por uma questão de salvar alguma sanidade da pessoa que vai ler isto tudo, não vou falar por recriação própria do gosto musical em si.
No que diz respeito à religião propriamente dita, cada um tem a sua. Os membros desta cultura, identificam-se por partilharem um conjunto de gostos em comum, é o que a define! Um deles é o factor que leva as pessoas a interessarem-se pelo oculto, a perguntarem-se se há algo para além desta vida. Porém, vou reforçar que nem todos os góticos são místicos ou satânicos.
A razão para se vestirem de negro? Porque é uma cor sóbria, que absorve todas as outras cores e, filosoficamente falando, absorve toda a imensidão da vida, tal como eles querem fazer. Sabem que existe
“um sinal de Stop no fim do caminho” que os relembra que é necessário aproveitar cada dia como se fosse o último, aceitando a morte como apenas mais uma etapa inevitável do ciclo da vida.
Daí também chegarem a ser acusados de
“culto da depressão”, porém não consideram que é muito bom sair de casa e fingir que está tudo bem, que estamos muito contentes quando estamos é profundamente de rastos. Não menosprezando quem o faz por ser a sua estratégia de
Coping mas nesta cultura é mesmo assim. Rejeitam ter que sorrir e estarem contentes todos os santos dias (nem que seja a fingir).
Dizem ainda estes membros desta cultura, que é magnífico poderem optar por um estilo de vida que tanto celebra o lado mais obscura da mente humana (o lado negro que existe em todos nós) como o lado em que quer aproveitar a vida ao máximo. No lado “negro” se assim se pode dizer, normalmente estas pessoas estão desiludidas com a hipocrisia desta sociedade decadente e vivem à procura de uma forma de expressar os seus mais íntimos e/ou obscuros sentimentos, seja na música, literatura ou arte em geral.
Procuram essencialmente o individualismo (que em vez de fechá-los no seu próprio mundo como muitos pensam) abrem as suas mentes para um outro universo, mais profundo e quiçá mais sensível. Daí dizer-se que os góticos são pessoas extremamente românticas e sensíveis (atenção, note-se que, obviamente, nem todos os góticos são sensíveis, há sempre a excepção à regra), no entanto, possuem ainda uma tendência para um humor perverso e, muitas vezes, sarcástico.
Talvez numa tentativa de resumo por minha parte, pertencer-se a esta cultura é abolir-se de todos os preconceitos da sociedade (racismo, religião, opção sexual…) que se intitula de moderna.
Depois desta definição, pode-se então pensar que conseguimos achar um gótico (propriamente dito) na rua seguindo o tal estereótipo, no entanto, isso não significa nada! Pois ser um elemento desta cultura, está é na mente e não no tipo de roupas que usa ou até mesmo a cor. Por isso, ao contrário das diversas culturas que existem, como os punks, rappers, os skinheads, os hippies, entre outras, um gótico não se torna gótico apenas por querer, vai descobrindo ao longo do tempo, conhecendo a arte, a música, a literatura e a história, sentindo-se bem com ela, ou seja, identificando-se, pensando sempre que estar consciente das coisas más não é sinónimo de estar triste.
Mudando de tema, indo desta vez para as pessoas adeptas da
cultura metal ou mais comummente chamados de metaleiros, sendo definitivamente grande parte deles (senão todos) seguidores fanáticos e inflexíveis deste estilo musical.
Quanto à música em si, sejamos sinceros, o metal não preza pelo número de ouvintes, não é nem de longe nem de perto o estilo musical que mais ouvintes tem, pois por muito que custe admitir, é “barulho” para as outras pessoas. Atenção, antes que comecem a espingardar para a caixa dos comentários, eu ouço metal (ou variantes,
whatever) e isto foi uma força de expressão para o que vem a seguir.
Qualquer que seja a definição, estamos de acordo no aspecto de que um metaleiro, é metaleiro até morrer. É algo que definitivamente fica gravado no ADN da pessoa. Mas o que são realmente? A meu ver são adeptos deste estilo de música alternativo e note-se o adjectivo que usei propositadamente, porque se por acaso o estilo musical alguma vez foge à regra, da sociedade é logo denominado de
“alternativo”. Pode ser barulho, poder ser o que quiserem mas é preciso ter-se ouvido para gostar de metal e talvez por isso se torne "alternativo".
Para explicar quem são os metaleiros teria que contar toda a história do metal mas conhecedores da história deste estilo musical sabe que se começasse, nunca mais saia daqui. Por isso vou tentar resumir um resumo (sim, o pleonasmo foi propositado).
O metal é, basicamente, um género musical que nasceu com base nos blues e no rock inglês do final dos anos 60. A partir do metal, surgiram outros sub-géneros, chamadas as variantes: thrash, black, heavy, death, alternative, power, gothic, melodic, doom, sinfónico, grindcore, new, viking, nu… E podia continuar e continuar e continuar.
Dizem os entendidos (e note-se que eu não sou uma) que o metal se caracteriza pelas batidas marcantes por tons graves secos e retumbantes, predominância sonora de guitarras sob efeito de pedais de distorção, pela amplificação, vocais característicos (que vão desde o agudo, agudo melódico, aveludado, rasgado ao grave gutural) e pelos virtuosos solos de guitarra que são extremamente complexos. Quanto às letras utiliza-se uma gama mesmo muito diversa de temas, que vão desde: protestos contra elementos repressores da sociedade, ocultismo, satanismo, depressão, solidão, raiva, medo, o lado obscuro do Ser Humano, alegria, injustiça, poemas, história de civilizações, momentos ou heróis da humanidade, humor, fuga da realidade, referências mitológicas… E, novamente, podia continuar e continuar e continuar.
No entanto, numa visão estereotipada as pessoas que escutam este género de música estão obrigatoriamente ligadas ao ocultismo, satanismo ou rituais pagãos. O que, obviamente, é falso.
O metal é na verdade um universo próprio, onde cada vertente possui características próprias e elementos que o destacam dos outros. Agora relativamente às pessoas que o ouvem, tenho talvez a ideia de que são um tanto quanto extremistas, no sentido de que, não ouvem mais nada para além daquilo. Mais nada é música, mais nada é digno de se ouvir (contra mim falo um pouco). Ouço muitas pessoas que se consideram verdadeiros metaleiros a dizer que, por exemplo, música clássica é lixo. É das coisas que mais me dói ouvir e constatar que grande parte pensa assim. Apesar da música clássica poder não ser do gosto pessoal de todos, temos que admitir que é importante, pois existem grandes mestres e génios da música clássica que deixaram grandes contributos. Claro que há sempre a excepção à regra, aliás, acabo por admitir que este tipo de extremismo existe em qualquer escolha musical.
O metal é ainda associado a revolucionários, pessoas que têm sempre uma perspectiva diferente da vida e consequentemente uma forma de viver diferente. Este gosto por este género musical amplifica-se ainda com o ir para um concerto e estar no meio da multidão, pessoas que partilham os mesmos gostos, ou seja, identificam-se uns com os outros mesmo não os conhecendo de lado nenhum.
Quanto ao vestuário, é (tal como nos góticos) uma vestimenta preta, contudo, é mais usual ver metaleiros com mais adornos, e com isto quero dizer, pulseiras com picos, cintos com picos, coleiras com picos, joalheiras com picos e afins. Para não falar do uso do cabelo grande e, no caso dos homens, cabelo grande e barba grande também. Mas atenção tal como tudo, há sempre excepções, aliás está-se cada vez mais a perder-se o estereótipo do típico metaleiro todo de preto, cheio de picos, cabelo enorme e barba até ao umbigo. São pessoas que se calhar passam despercebidas ao nosso olhar e que apenas têm um gosto musical diferente do usual.
Por isso, talvez descomplicando um pouco, o metal é um gosto pessoal, por muitos considerado religião, mas, na verdade, não passam de expressões artísticas, com uma filosofia própria (e aqui estão todos os ingredientes para se criarem estereótipos).
Metal é um espírito alternativo, uma libertação do quotidiano, anti-tradicional, onde se descobrem sensações, emoções, estados de espírito únicos (próprios de cada vertente) e que, nem seja só por isso, vale a pena segui-lo com atenção e afinco.
Por isso, posso estar aqui a definir e dissecar uma coisa que tem décadas de história, revoluções e evoluções, que haverá sempre alguém que vai dizer que falta qualquer coisa ou então que disse alguma coisa de errado, pois gostos são e sempre serão subjectivos.
E para concluir, deixo uma recomendação de um entendido do
Crónicas de Ontem para Hoje e Amanhã:
“Aconselha-se o comum dos mortais a continuar a baixar a cabeça ao passar na rua por um de nós. É que a maior parte dos nossos espinhos de metal... está mesmo afiada!”