Eu estive a pensar se ia escrever algo sobre o assunto mas a verdade é que desde sempre o acto de escrever é quase como uma catarse para mim, por isso aqui vai disto…
Há uns tempos não me andava a sentir nada bem, coincidiu quando li menos, a minha cabeça simplesmente não conseguia relaxar o suficiente para eu aproveitar um hobbie que eu adoro que é ler. Na primeira semana pensei que era cansaço, na segunda semana pensei que era ressaca literária, na terceira semana pensei que era falta de oportunidade e na quarta semana apercebi-me que estava continuamente a tentar arranjar desculpas.
Não estou a dizer que estava a arranjar desculpas para não ler, aliás como já disse é preciso respeitar, se simplesmente não estamos com cabeça, não vale a pena obrigar. O que estou a dizer é que estava a arranjar desculpas para um facto que eu lentamente fui percebendo: psicologicamente não estava bem.
Com as pressões do trabalho, situações extremas profissionais devido a uma pandemia mundial, mudanças na nossa rotina devido à conjectura e a gerência das saudades das pessoas que estão longe… o meu psicológico não estava no seu melhor estado.
Mais e mais eu pensava que se calhar eu devia procurar ajuda e quando uma psicóloga em quem eu confio, estaria a dar consultas online, saltei logo para essa oportunidade.
Ao longo da consulta e de alguns testes para tentar perceber a melhor direcção a tomar, mais eu falava, mais eu verbalizava o que ia cá dentro, mais eu pensava: mas porque raio eu sou tão crítica de mim própria?
Quando as pessoas me criticam ou insultam e eu não demonstro grande emoção, é porque vocês provavelmente não estão a dizer nada que eu já não tenha dito a mim própria. Eu estou constantemente numa batalha comigo mesma, de aceitar as minhas falhas… Isto num constante diálogo interior de “estás a fazer o melhor que podes”, que naturalmente leva a alguns distúrbios de humor mas mais cansaço pois é uma luta constante.
Para quem pensa que quem melhora de uma depressão ou de crises de ansiedade, fica instantaneamente curado… fiquem sabendo que isso está muito longe da verdade. Pessoas assim, estão em constante trabalho pois é como se um pequeno diabinho estivesse constantemente no vosso ombro a dizer que não somos capazes, que não valemos nada como pessoas, que não estamos aqui neste mundo a fazer nada… Há, apenas dias, em que conseguimos ignorar esse diabinho e nos sentimos confiantes mas há dias em que não ouvimos mais nada a não ser a sua voz irritante.
Por isso, é que sei que pedir ajuda logo no início é importante pois quanto mais arrastamos, pior é. Se partíssemos um braço, não iríamos pensar: Ó, não é nada, isto já melhora. Não, sabemos que algo não está bem e vamos resolver. Simples e lógico, certo?
Então porque não pensamos o mesmo para a nossa saúde mental?
Isto para dizer o quê… Que mesmo numa pandemia ou durante a recuperação de uma, é possível procurar ajuda. Se estamos dispostos a pagar por uma consulta no médico ou uma sessão de fisioterapia ou até mesmo o novo livro de um autor que adoramos… porque é que isso não é igualmente válido para uma consulta de psicologia? Saúde, seja ela física ou mental, não deveria ser considerada um luxo.
E, por fim, gostaria de frisar bem que não se demonstra fraqueza ou incompetência por procurar ajuda, só se demonstra coragem e inteligência. Por isso, espero que com este desabafo ajude a alguém que esteja a ser demasiado crítico consigo mesmo ou esteja a ouvir certas vozinhas exteriores a desvalorizarem o que sentem. Cuidem de vocês, procurem ajuda se for preciso e sejam gentis com as pessoas à volta pois nunca sabem as dificuldades que elas estão a passar.