30 de junho de 2021

The Song of Achilles (opinião SEM & COM spoilers)


 (Spoilers estão protegidos aquando visualizado em versão Web mas para conseguirem ver basta selecionarem o texto)

Já tinha este livro da Madeline Miller na minha estante à espera para ser lido há bastante tempo! Aliás, até tive uma situação engraçada porque ao ler os primeiros capítulos, estava um bocado confusa porque estava a ser extremamente familiar. Tive um momento pequeno de pânico a pensar: credo, será que eu leio assim tanta mitologia que já tudo me parece familiar?!
Só que não, LoL. O que aconteceu é que há um ano atrás peguei no livro para ler com Delicada como um Elefante mas acabamos por pousar o livro na altura pois não tínhamos disponibilidade para lermos juntas... até este ano!

Este livro é, como podem depreender pelo título, sobre mitologia grega, mais especificamente a guerra de Tróia e o mito de Achilles. Contudo, posso dizer que, muito honestamente, não é preciso conhecimento desta mitologia para apreciar este livro.
No entanto, a autora é especialista em adaptar os clássicos para uma audiência mais moderna e isso nota-se no livro, com certas explicações sobre personagens, lugares, contexto, vocabulário, entre outros. Adicionou foi toda um novo ângulo com um romance "proibido". 

A verdade é que para qualquer entusiasta de mitologia grega sabe das nuances de Achilles e Patroclus, por isso, o facto da autora ter escolhido isso, foi extremamente inteligente.

A verdade é que se formos bem a ver a história que está disponível foi-nos trazida e traduzida por (na sua maioria) homens...brancos... privilegiados... e muito provavelmente católicos. Não estou a dizer isto para dar uma de feminista. É das mais puras das verdades. Muito provavelmente perdemos muitos cultos de deusas ou histórias fora da narrativa católica ou opressora. Ainda hoje temos novos artigos a sair a dizer que afinal em certo texto clássico a narrativa ganha um novo significado pois X ou Y palavra foi mal traduzida. Pois há mais do que homens a estudar os clássicos e sem o mesmo background também.

O mesmo pode ter acontecido à história de Achilles e Patroclus, que tenho que dizer que está descrito lindamente, quem sabe se o mito original eles não eram mesmo um casal? Aliás o facto de a autora ter começado na infância de Patroclus fez com que o livro fosse um crescendo fantástico.

Achei mesmo que o romance foi descrito de forma bela, épica, apaixonada e respeitosa... Contudo, apesar de o livro ter tudo para dar certo, teve um entrave. Um péssimo timing da minha parte, pois o facto de ter lido o The Silence of the Girls antes deste livro, fez com que a narrativa da Madeline Miller ficasse estragada para mim. Porquê? Porque ambos os livros se passam na guerra de Tróia, ambos os livros têm Achilles, Patroclus, Agamemon, Briseis, Thetis... Mas mais especificamente na guerra, nunca mais consegui me desfazer da perspectiva feminina. 
Mesmo com um romance de nos encher o coração, não conseguia separar as narrativas das mulheres naquele campo a serem tratadas como gado, a serem violadas, escravizadas, entre muitas outras coisas. Por não me ter conseguido desligar do The Silence of the Girls, este livro ficou um bocado estragado para mim.

Contudo e porém, recomendo vivamente a sua leitura pois é uma visão lindíssima e maravilhosa do mito de Achilles, uma bela história de amor manchada pelo orgulho dos deuses e dos seus descendentes! Recomendo se quiserem ler algo com o tema de mitologia grega mas não têm muito conhecimento da mesma pois não acho que isso seja necessário para usufruir da mensagem deste livro. 

Já leram este livro ou algo da autora? Por acaso, leram algum livro com esta temática?

23 de junho de 2021

Mors-Amor (opinião SEM spoilers)

 


Em primeiro lugar, tenho que agradecer à Words à lá Carte e à Shadow Frozen pelo seu projecto fantástico #adagioinlibri, que foi onde efectivamente conheci a autora Sónia Ferreira e consequentemente este livro! Sim, porque só a história em si de como a ideia surgiu à autora e como ela o produziu com recursos 100% portugueses, é só brutalíssima e recomendo verem o seu episódio para saberem mais. Além disso, as meninas organizaram toda uma leitura conjunta, que foi brutal para debater o livro e ressacarmos juntos também, LoL.

Em segundo lugar, como já não faço há algum tempo vou vos deixar algumas das minhas citações favoritas. 

“Os mortos não contam histórias.”

“Que todos aqueles que partem daqui hoje, voltem amanhã. Que a nossa carne não lhes sirva de alimento e que o seu sangue regue esta terra. Já que a querem tanto, que lhe dêem de beber!”

Enquanto um lusitano respirar e tiver força para levantar uma espada que seja... vai sempre haver Lusitânia. O que nós somos não desaparece com o nome que damos às terras, às estradas e aos deuses. O que nós somos, somos...só a morte pode apagar. 

Sim! Normalmente, deixo só uma mas este livro... Meu Deus! Por isso, tenho que deixar uma menção honrosa para simplesmente um cântico/poema que se encontra no livro e me deixou arrepiada até ao tutano.

Da pedra fez-se a montanha 

E na montanha nasceu o rio. 
O rio gritou e desceu 
E vida aos homens deu. 
Os homens sangram e morrem, 
Fazem-se cinza 
E voltam às pedras. 
Pelos deuses eu juro, 
Sobre a terra que viu nascer os pais dos meus pais, 
Eu juro, sob a noite que esconde os mistérios 
E a lua como testemunha, 
Eu juro, sobre o corpo das minhas irmãs mortas, 
Eu juro...
 Aqui, onde o vento me levará, 
Pela lâmina da minha espada, 
Morrerá quem a morte me trouxe 
E quem a morte trouxe aos meus 
Tong a toing mo thuath! 
(Tradução livre para: Juro o que jura o meu povo)

Relativamente ao que achei do livro, vamos por partes. Acho que primeiramente irei falar da edição. Não é uma coisa que normalmente mencione mas neste caso, tendo em conta que é uma edição de autor, merece mesmo que fale sobre ela. O cuidado de design, paginação e as ilustrações, são para lá de fenomenais! 

Quanto à escrita, como foi precisamente uma publicação de autor, não houve editoras envolvidas e saiu tudo do bolsa da autora, nota-se a falta de uma revisão. Não necessariamente de erros ortográficos (muito honestamente acho que só reparei num ou outro, nada de outro mundo) mas sim relativamente a homogeneizar a cadência de escrita. Nota-se um "salto" da primeira parte do livro para a segunda parte, se tivesse como que idêntico ao longo do livro, ficaria muito melhor, na minha opinião. 

Outra nota que gostaria de deixar é que a escrita ao início me fez sorrir pois nota-se mesmo que tinha sido uma Enfermeira a escrever, LoL. Com um tom bastante científico mas a verdade é que o background profissional da autora é mesmo Enfermagem, aliás é especialista, portanto daí me ter feito sorrir mas não achei nada de problemático.

Quanto ao que é efectivamente este livro? Ficção histórica com o tema da nossa história Lusitana. Sim, aquela história que está perdida da altura da invasão dos romanos na Peninsula Ibérica. Não estou a dizer spoiler nenhum quando digo que o meu queixo caiu ao chão quando vejo duas palavras: mitologia lusitana. 

Gente, para quem me segue há mais tempo sabe perfeitamente a minha paixão por mitologias, portanto quando eu li logo nas primeiras páginas estas duas palavras e a menção da autora dos deuses lusitanos? Eu perdi completamente a cabeça! 

Como assim nós tínhamos mitologia? Claro, que devemos ter tido mitologia mas como é que eu não sei nada disto?! Como é que eu nunca pensei em pesquisar sobre a mitologia do nosso próprio país? Vocês não têm noção, eu tive mesmo que pousar o livro e tratar de pesquisar. 

Sim, um livro de fantasia, portuguesa, fez-me pesquisar história... estou tão espantada como vocês.

Isto para dizer o quê? Que a autora fez um trabalho de pesquisa não só brutal mas como impossível. Pois a verdade é que a história é contada pelos victoriosos. Ou seja, antes da invasão dos romanos, os povos desorganizados, um deles os Lusitanos que residiam no coração das montanhas de Portugal, não tinham ainda a tradição escrita, era tudo muito ainda o contar de histórias à volta da fogueira. Isso fez com que tenhamos perdido grande parte da nossa história mas do pouco que temos, a autora encontrou! 

Não só isso, ainda incluiu algumas referências celtas. Que me fez questionar o porquê... Até ali a autora tinha uma pesquisa admirável, então lá fui eu pesquisar outra vez, LoL. E não é que fiquei a saber que Portugal tem mesmo vestígios da cultura celta acima do rio Douro! Não foi uma alta surpresa pois sou de Trás-os-Montes e em conversa com colegas escoceses aqui no UK, me apercebo de certas semelhanças. Contudo, não foi algo que alguma vez tivesse pesquisado ou tentado saber ao certo e foi este livro que me levou a isso!

Outra coisa que gostei muito foi as duas timelines no livro, não vou dizer quais mas digo apenas que é brutal como a história não se fica apenas por um espaço temporal, como a alma lusitana continua pelos séculos. Pois além da aventura épica da altura ainda antes de Cristo, com a nossa história, com a nossa gente, com o nosso Portugal, tem também um romance lindíssimo... 

Para os fanáticos de fantasia, tem também um mapa logo assim no início. Como leitora ávida de fantasia, todos sabemos da importância de um mapa. Neste caso, não só o mapa como a capa foram ilustrados pelo artista Pedro Nascimento, que ficaram mesmo incríveis! 

Além disso, gostaria de dizer que no final, mesmo no final do livro existe uma resma de páginas onde a autora nos explica quem eram as personagens históricas e as fictícias. Um esforço de louvar! Contudo e porém, o meu coração partiu-se em pedaços, quando cheguei efectivamente ao final da história, que acaba assim como que num climax da enredo, pensando que ainda havia muito para contar devido à quantidade de páginas no final, LoL. Isto para dizer o quê? Para quem vai ler este livro, pela vossa saúde, não salte para o final! Sei que há pessoal que gosta de esfolhear o livro e tal mas não façam isso para o final do livro pois vão apanhar com spoilers na lista de personagens. 

Outra coisa que me estava a perturbar, enquanto estava no início da leitura, era o título do livro. "Mors-Amor" é de facto um título peculiar mas a autora deixou a migalha do poema de Antero de Quental logo no início... ao longo da história e ao finaliza-la percebi o seu sentido: a luz e as trevas, o ideal e o desalento, a morte e o amor... são dois lados da mesma moeda. 

Em suma, caso ainda não tenham percebido, eu adorei mesmo este livro! Tendo só a crítica da revisão, a autora conseguiu captar-me de corpo e alma, com esta história que faz parte de uma trilogia. É de louvar não só o facto da autora ter produzido este livro com recursos portugueses, o ter escrito nas suas horas vagas como Enfermeira (uma imensa admiração deste lado, com certeza) mas também pelo facto de que este é o seu primeiro livro publicado! 

Por isso, aconselho vivamente este livro para qualquer fã de ficção histórica ou fantasia, tendo só a ressalva de que a escrita não é a mais complexa, enfadonha ou maçuda, o que para mim até é uma mais valia pois fica ainda mais abrangente. Além de que a sensação que tive foi que não havia descanso com este livro! Não dá como o pousar, LoL.

Acabei o Mors-Amor com vontade de pegar numa espada e ir para a montanha lutar... Daí dizer que estou mortinha que saia o segundo desta trilogia!


P.S. - obrigada Night por teres ouvido a enxurrada de asneiras que caiu no teu chat no momento em que acabei o livro. Em minha defesa, estava em estado de choque com aquele final e uma pessoa tem que deitar cá pra fora, LoL.

18 de junho de 2021

Geekices do Demo



É com imenso prazer que vos apresento o meu novo projecto, em conjunto com a fantástica Words À La Carte! Em formato podcast, disponível em todas as plataformas, é com imenso prazer que apresentamos o "Geekices do Demo". Porque mulheres a falar de cenas geeks? Isso é coisa do demónio!

Com episódios semanais, as vossas segundas-feiras nunca mais serão as mesmas... Deixo aqui o nosso primeiríssimo episódio e, claro, não se esqueçam de seguir o instagram do Geekices do Demo!

16 de junho de 2021

Zeus, um pervertido ou apenas com costas largas?

 


Em toda a mitologia grega há dois temas presentes: nunca desafiem os deuses; e Zeus tem mesmo, mas mesmo que aprender a estar quieto.

Já estão a adivinhar… Nesta história, Zeus não esteve quieto. Nisso não podemos criticar o pai dos deuses, pois ele não tinha qualquer tipo de preconceito, LoL. Tudo o que vinha à rede era peixe: deuses, semideuses, mortais, animais, etc. Mas um dos mitos mais estranhos é o de Leda e o cisne.
Nesta história, Zeus vê Leda e admira-a ao longe, então decide que para se aproximar dela e seduzi-la, decidiu transformar-se num lindo cisne. 

Não sabemos, e provavelmente não queremos de todo saber como, os dois acasalaram e da união surgem dois pares de gêmeos. Uma das filhas nascidas dessa união, foi Helena de Tróia, supostamente a mulher mais linda à face da terra que conseguiu, por assim dizer, causar toda uma guerra. 
 
Agora falando a sério, se formos a pensar bem, provavelmente muitas mulheres usaram esta desculpa para cobrirem alguma escapadinha moralmente duvidosa.
“Ernestina, estás grávida! Quem é o pai?”
“Ah... Erm... Zeus?”
“Ah, ok… faz sentido.” 


Nota: obrigada Sam Livralma pela revisão de texto. 

11 de junho de 2021

The Silence of the Girls (opinião SEM spoilers)

 


Se me perguntarem como é que este livro, da autora Pat Barker, chegou à minha lista de livros para ler, já não vos sei responder. Provavelmente foi algo do género: "Olha! Mais mitologia grega!" LoL

Portanto, o tema deste livro é isso mesmo mitologia grega, mais especificamente a altura da guerra de Tróia... o twist é que é na perspectiva das mulheres. Ou seja, só com esta premissa este livro suscitou-me imensa curiosidade, pois muitas das vezes a perspectiva foca-se muito nos heróis.
Apesar então do tema e da perspectiva diferente do mesmo, infelizmente, custou-me imenso a ler este livro. Porquê? Porque a narrativa do livro é extremamente monocórdica! A autora escreveu quase como relatos mas tudo parecia desprovido de emoção.

Eu digo isto com pesar porque (e não estou a dar spoiler nenhum quando digo isto) a história não é só escrita pelos vencedores como também é escrita por homens. Ou seja, os feitos dos heróis, as conquistas dos líderes, é o que fica nos anais da história... e não o que acontecia às mulheres das cidades pilhadas, que eram tratadas como verdadeiro gado. Eram violadas, maltratadas, escravizadas e sabe-se lá que mais.
Temos Achilles e Patroclus numa luz diferente, temos a guerra sem um pingo de romance, temos brutalidade,  temos tanta coisa neste livro e eu simplesmente não consegui sentir nada. Sei que parece uma coisa estúpida de se dizer pois nem todos os livros têm que suscitar sentimentos mas eu simplesmente senti que este livro não me encheu as medidas, quando na verdade tinha tudo para dar certo.

Contudo, quando me lancei a ler outro livro com a mesma temática da guerra de Tróia, este livro acabou por me estragar essa leitura pois estava sempre a pensar na perspectiva feminina. Por isso, se calhar o livro deu-me precisamente aquilo que tinha prometido. Fazer-me pensar em toda a história que aprendi e pensar na perspectiva feminina, mesmo que este livro não seja de todo ficção histórica. Não será por acaso que lhe chamam a "Ilíada feminista"!

Em suma, tenho uma relação amor-ódio com este livro, LoL. Por isso, aconselho este livro a qualquer pessoa que queira ganhar esse novo panorama na história mas com a salvaguarda que o livro é um bocado "seco", no entanto, em algumas partes chega a ser um bocado gráfico.

Já tinham ouvido falar deste livro? Acham que seria interessante ganharmos esta perspectiva na nossa história?